Na crista do Galo

Entregámos os passaportes, pagámos os vistos e dirigimo-nos
à sala dos carimbos. Sem eles não podemos entrar no país e para tê-los, temos
de pagar.
- 2 dólares cada um. – Disse-nos um dos guardas trombudos.
- Não é a primeira vez que entramos no país. Sabemos
que não temos de pagar nada. – Se resultou num lado, tem de resultar no outro.
- 2 dólares cada um. – Insistiu sem retribuir o sorriso.
De nada valeu reclamar e estrebuchar. Tivemos de pagar… Não
podiam carimbar na altura que pagamos os vistos? Se o visto está pago, é sinal
que podemos entrar no país, certo? Esses 2 dólares são para quem? Detesto
polícias!
- Tenha um bom jantar com o nosso dinheiro. – Assim me
despedi e recebi um sorriso.
Mau começo. Não deixámos que este acontecimento afectasse o nosso dia. Não servia de nada reclamar. Alimentámos os bolsos daquele
guardas e pronto. Que sejam felizes!

Escolhemos um quartinho bem humilde com vista para o Mekong.
Repouso absoluto! Tínhamos uma pequena varanda, onde tomávamos o pequeno-almoço
e preparávamos o jantar, onde líamos e escrevíamos no portátil, onde lavámos as
meninas e onde o Rafael remendava os muitos furos que teve… O pobre… É a sina!
Pedalámos pela ilha e estávamos rendidos. A exploração
terminou quando o Rafael caiu numa pequena descida com forte inclinação. O
forte dele é arriscar e atirar-se de cabeça a desafios cheios de adrenalina.
Muitas vezes correm mal, e esta não foi excepção! Eu consegui ver o filme todo,
mesmo antes deste acontecer. A roda de trás levantou fazendo uma bela égua
aos coices. Catrapus-pus-pus! Belo tombo!
- Estás bem? – Perguntei para saber se podia ou não soltar
fortes gargalhadas.
- Sim, acho que sim. – Respondeu sem se mexer.

Eu estava numa de pouco sair, pouco visitar. Queria
aproveitar aquele ambiente tranquilo da ilha e fazer pequenas coisas: ler,
desenhar, beber uma Beer Lao e
escrever para o blogue.
O Rafael voltou a sair com a bicicleta e pedalou até outra
ilha, onde visitou umas cascatas. Fiquei arrependida de não ter ido com ele,
quando vi as fotos. Precisávamos de mais tempo na ilha. Mas o tempo... o tempo...
- Vi um terreno incrível com uma casa desabitada. Tenho de
saber o preço. Ainda nos mudamos para o Laos! – Estava entusiasmado.

Fim da boa vida. Voltámos a colocar as meninas no barco e metemo-nos
à estrada. Foram 8 dias a pedalar sem descanso! 100 quilómetros, 48, 80, 78,
75, 71, 93, 110 quilómetros… isto dá uma média de 82 quilómetros por dia. Não é
muito, mas para mim é! Parámos em sítios incríveis que dava vontade de ficar
mais que uma noite mas o tempo… o tempo… Ficámos em sítios que dizíamos “Era
capaz de morar aqui por uns tempos”! Estávamos a gostar do Laos mas o tempo… o
tempo… As casas continuavam com pernas, mas bem mais bonitas que no Camboja. As
pequenas aldeias atraem-me/atraem-nos!
Parámos em Champasak
e visitámos as ruínas de um antigo templo hindu que foi transformado em templo
budista. Estas ruínas são bem mais antigas que Angkor Wat mas se as deixarmos para depois, não impressiona tanto.
A vista que se tem do topo, é incrível, mas as ruínas em si… São mais umas
ruínas, mas são elas que chamam o turismo. Ora nós preferimos o passeio de
bicicleta que nos levou até lá. Foram 8 quilómetros a cumprimentar as pessoas,
a admirar as pequenas casas, mas a desiludir-nos com a forte aparecimento de
casas em cimento e sem pernas… O país está a desenvolver e quer à força, ganhar
semelhanças com o ocidente. Nós é que queremos que se mantenha sempre autêntico!
De nova à estrada e fizemos um pequeno desvio. Não foi
cortar caminho, nisso já não caiu mais! Foi mesmo um desvio para ver cascatas.
Ao que parece, é um trajecto obrigatório e bem conhecido. Parámos nas primeiras
cascatas e fomos ver a água a cair. Quando vimos as escadas que tínhamos de
descer, desistimos da ideia. Já tínhamos pedalado muitos quilómetros e
estávamos com as pernas feitas em pedra e as escadas, nestas situações, são as nossas
piores inimigas! Tirámos uma fotografia ao longe e fomos de novo para a estrada,
procurar um sítio para montar a tenda.

Estava escuro e eu detesto pedalar no escuro. Tentei pedir a
uma senhora para montar a tenda mas não estava a perceber o sinal que ela me
fazia com a cabeça. Mantinha o sorriso e, na minha cabeça, ela estava a dizer
sim, mas o Rafael que não queria muito ficar ali, insistia em dizer que aquele
sinal queria dizer não. Descobri dias depois que ele estava redondamente
enganado!
Estava a pedalar sem vontade e chateada com o Rafael. “Um
desvio para ver cascatas, eu que não ligo a isso. Já vi as cascatas de Niagára,
já chega! Ai não me ajudaste a pedir para montar a tenda, fui eu que fiz a
mímica todas e fomos embora, mesmo tendo a senhora e o marido, dito que sim.
Quero ver agora onde vamos dormir. Ver cascatas… puff” o meu pensamento andava
a mil e a insultar o meu parceiro.
Continuámos no sobe e desce da estrada e o Rafael disse-me para parar quando viu um possível terreno para acampar. Desta vez, foi ele fazer a
mímica. Resultou, montámos a tenda, preparámos o jantar e voltámos a falar. Não
podemos ficar muito tempo chateados, nem conseguimos…

O nosso quarto tinha uma pequena varanda. Sabe bem ter uma
varanda que não nos obriga a ficar fechados no quarto. Aproveitámos para
aperfeiçoar as nossas obras de arte, com garrafas de plástico e aumentar o
nosso jardim zoológico. Não podemos mostrar muito, pois perdemos as fotos desta
noite… do dia seguinte, e do outro…
Lemos que em Tad Lo o turismo é em demasia… Não achámos. Achamos mesmo que é um sítio obrigatório a
visitar.
Voltámos a olhar para o mapa. E voltámos a ver um corte…
- Eu não corto caminho! Já disse! Prefiro fazer mais
quilómetros. – Relembrei.
A estrada estava no mapa e poderíamos cortar 40 quilómetros.
Fomos às informações e perguntamos pelo estado da estrada. Foi-nos dito que é
possível fazê-la. Não é alcatrão mas está em bom estado e é quase sempre
plana. Ok, vamos cortar caminho que não é bem cortar caminho, é apenas escolher
outra estrada.
Bela escolha! Pedalámos bem depressa e sem inalar poeira,
pelo menos eu, pois comprei uma máscara como os locais usam. O Rafael usava os
meus óculos azuis da piscina, para proteger os olhos. Tenho pena de não ter
fotos… Estava numa linda figura e o dia foi bom! Pelo menos, diferente!
Tirámos fotografias às crianças, fomos convidados para um chá e estávamos mesmo
bem-dispostos!
Quando avistámos um rio, foi a festarola! Descemos até ele e
fomos para um mergulho. Começámos por molhar os pezinhos. Caminhámos um pouco e
sentámo-nos na água.
- Cheira mal ou é impressão minha? – Perguntei.
- Cheira a fossa, não cheira? – Perguntou o Rafael,
concordando assim comigo.
Sim, cheirava mesmo muito mal! Cheirava a esgoto! Foi o
sinal para nos levantarmos e fugirmos! Mas que cheiro que tínhamos entranhado
na pele… Pedalámos depressa, pois devíamos ter uma nuvem de mau cheiro em nosso
redor… Chegámos à estrada principal e mal vimos uma mangueira parámos. Não
pensámos duas vezes. Estava na hora do banho, ali mesmo, mesmo em frente a
todos que passavam! E assim, demos por concluído o dia. Fomos à procura de uma Guest House mas não gostámos dos preços.
- Queres experimentar pedir para acampar num templo budista?
– Perguntei, sabendo à partida que não nos seria negado o pedido.
Assim foi. O Rafael pediu e recebeu um sim. Montámos a tenda
e cozinhámos. Os monges mais novos – as crianças – olhavam-nos, contentes por
estarmos ali. Não tivemos muito contacto com os monges. Eles sorriam, eram
simpáticos mas deixavam-nos no nosso cantinho e quando as crianças se aproximavam muito, depressa saiam, ao mando de um mais velho. Foi pena, pois seria
interessante podermos ter comunicado mais.

Confesso: Estou cansada… Ter a data de regresso já marcada,
pesa muito. O tempo que temos não nos permite respirar os sítios onde paramos. Não podemos fazer grandes desvios para ver coisas, e o Rafael não foi na minha
conversa quando lhe sugerir apanharmos um transporte, para podermos ter tempo
para ver mais coisas e ficar mais tempo nos sítios. Não achou piada à minha
ideia e não consegui entender o porquê… Estava a desejar uma boleia! A estrada
era uma enorme recta sem nada, mas mesmo nada para ver. Encontrámos vários
ciclistas que nos diziam:
- Apanhámos um transporte aqui, porque o caminho era muito
mau e cheio de montanhas (…) Arranjámos boleia nesta estrada porque o centro do
Laos é uma verdadeira seca…
Não andamos a pedalar como doidos (sou eu que sinto isso, pela
pressão do tempo). “Esta é a altura perfeita para terminar uma viagem.” Pensava
para comigo, mas depois há o Vietname que vem já a seguir e que quero conhecer.
Ok, vou fazer mais um pequeno esforço e continuar caminho.
Em Tkahek, sabíamos que iríamos ficar um dia a descansar.
Ainda tínhamos 200 quilómetros pela frente… No dia seguinte, tive um bom dia!
As minhas pernas voltaram a ter forças e íamos a um bom ritmo. Conseguimos
fazer 93 quilómetros com uma perna às costas! Parámos para almoçar com 70 quilómetros
e conhecemos dois belgas que andavam à boleia. Passámos umas horinhas com eles
e decidimos fazer mais quilómetros. Tínhamos que aproveitar a nossa boa
disposição. Voltámos a parar num templo, onde sabemos que podemos ter um banho
e isso sabe sempre bem, mesmo que seja água fria.

- Hotel. Go hotel.
Como? Agora que está escuro, que está a chover pedregulhos é
que nos dizem isso?
- Não! Eles disseram que podíamos ficar aqui. Estamos aqui
há várias horas, não é agora que nos dizem que temos de sair. Não podemos ir a
lado nenhum com está chuva. – Queixámo-nos.
Não era muito justo termos de sair naquelas condições… Nem
percebemos o problema daquelas senhoras! O certo é que ficámos, e no dia
seguinte partimos bem cedinho.
Mas um dia duro… Não queria fazer cento e tal quilómetros para
chegar a Tkahek, preferia ter feito
em 2 dias. “Se chegarmos hoje, podemos ficar um dia a mais.” Este meu
pensamento ajudou-me a pedalar, mesmo sem vontade. Fui duro, arrastei-me
lentamente pela crista de galo mas chegámos… e recebi umas belas massagens às
pernas!
O Mekong
Tirando os gritos estridentes, gostamos das crianças do Camboja!
A liberdade que têm, o ar selvagem. Têm qualquer coisa de índio e gostamos
disso!
No dia em que saímos de Phnom
Penh, parámos aos 30 quilómetros para ganharmos energia com um sumo de
cana-de-açúcar. Perguntámos o preço (pergunta-se sempre, mesmo sabendo à
partida, o valor) e antes de pedir, o Rafael vira-se para mim com cara de
aflito e diz-me que não sabe da carteira. Bonito! Revirou os sacos todos e
começámos a ficar preocupados, muito preocupados. Nisto, a rapariga dos sumos,
apareceu com dois sacos cheios de bomba calórica. Tentei explicar-lhe que não
podíamos aceitar, porque não tínhamos dinheiro mas ela insistiu em oferecer-nos
as bebidas. Não estávamos à espera deste gesto e confesso que fiquei com um
pequeno nó na garganta.
O céu não se mostrava com boa cor e o vento apressava-se
para chegar, não sabemos vindo de onde… Nem ele o sabia, pois não se decidia no
sentido a tomar.
Ao contrário do vento, nós sabíamos muito bem o que tínhamos
de fazer: Sair dali o mais depressa possível e abrigarmo-nos.
Voltámos para a barraquinha e uma senhora que andava na
apanha da manga, fez-nos uns gestos que nos pareceram dizer: “não fiquem aí que
vem uma grande tempestade. Vão nesta direcção que vão encontrar um sítio para
passarem a noite”. Não sabemos se estávamos certos na tradução, mas queria
acreditar que sim. Uns 10 metros mais à frente, um senhor esticou o braço e
apontou para um pequeno centro de saúde. No seu interior, estava uma mulher que
nos fazia sinal para entrarmos. Parecia que estava tudo combinado!
A chuva caia com força e nós estávamos bem contentes com
este convite. A senhora preparou o nosso ninho, o Rafael preparou o jantar e eu
brincava com o filho de senhora. Gosto de comunicar com crianças dos outros
países. Não é preciso grande coisa. Basta imitar uns quantos animais, fazer
umas caretas e uns sons estranhos, e não nos cansarmos de correr, levantá-las
ao ar e usá-las como plasticina!
Partimos cedinho, com uma fotografia tipo passe, da filha
mais velha da senhora. Agradecemos o carinho e colámos carinhosamente a
fotografia no nosso caderninho de recordações. O miúdo ficou triste com a nossa
partida e com a partida de todo o jardim zoológico que transporto nas cordas
vocais.
De novo à estrada poeirenta, que nos levava por entre
pequenas aldeias, onde se notava uma forte comunidade muçulmana. Estes ficavam
contentes ao ver a barba forte e abundante do Rafael e ficavam contentes ao
verem que sabíamos como responder acertadamente ao cumprimento árabe.
- Muçulmanos? – Perguntavam-nos.
“Não somos, mas passamos uns meses valentes no meio deles.” Podíamos
ter dado esta resposta, mas sabíamos, à partida, que de nada serviria… por
muito boa que a mímica fosse, eles não chegariam lá. Então, sabendo que para
eles é importante ter-se uma religião, respondíamos mesmo que não fosse
totalmente verdade:
- Cristãos!
A Arábia Saudita anda a investir no Camboja… Estão a construir
uma série de grandes mesquitas vistosas, aos pontapés, assim como grandes
escolas, e a convencer as mulheres a cobrirem-se mais, se possível, ficando
apenas com os olhinhos à mostra. Muitas estão a obedecer… Esta pequena minoria
muçulmana é conhecida como Cham, e são
influenciados pelos Islamismo da Malásia. Ainda vemos crianças com os cabelos
soltos e livres, e as mulheres, andam com as roupas tradicionais do Camboja,
deixando os braços à mostra. É tudo bem mais natural, mais livre, mas o
dinheiro anda trabalhar bem por estes lados. Quem nos contou tudo isto, toda
esta transformação que está a acontecer a esta minoria, foi o Padre Luca.
- Por mim, ficava aqui a vida toda. – Dizia com um sorriso.
Não foi preciso montar a tenda! A casa que construiu para
viver, tem um quarto para receber viajantes e quem quiser visitá-lo. Fica
contente com a companhia e nós ficámos contentes com a hospitalidade.
No dia seguinte, assistimos à missa. Na igreja, deveria de
estar umas 40 pessoas.
- Eles são mais, mas muitos foram para o campo trabalhar. –
Explicou-se.
- Tenho de dar mais duas missas hoje. Vou substituir o padre
equatoriano. Podemo-nos encontrar em Kracheh.
Depois de 85 longos quilómetros - pois pensávamos que seriam
bem menos - chegávamos! Encontrámos uma pequena Guest House e no momento que estávamos a procura do telemóvel para
entrar em contacto com o nosso novo amigo, o telemóvel toca. Era ele, pronto
para nos ir buscar, para jantarmos juntos. E lá fomos nós, os 3 na acelera! Em Roma,
sê romano, sempre ouvi isso.
Não estávamos certos do corte para virar mas bastava estar
perto do rio para estarmos bem. O mapa não engana. Este caminho era bastante
estranho… Estaríamos bem? Havia partes bem queimadas, deixando uma paisagem
triste e assustadora. Não queríamos voltar para trás, pois sabíamos que não
estávamos mal. O rio continuava ao nosso lado esquerdo mas o caminho passou a
ser um trilho que desapareceu quando chegámos à frente de uma casa. “Bonito!”
- Stroeng Treng? –
Perguntámos à família que se encontrava ali perdida no meio do nada.
Sorriram e apontaram para outro trilho. Estávamos
estranhamente bem… Agradecemos e continuámos caminho. Descemos muito, sendo
obrigados a saltar das bicicletas fora. Passámos um rio seco e restava-nos
subir. Os miúdos da casa apareceram e ajudaram-nos a empurrar as meninas.
- É muito estranho… As motorizadas não podem passar por
aqui… - Comentava o Rafael.
“Pois não…” Pensava, já com o nariz torcido. Voltámos a
descer e a passar rios secos, voltámos a ver a floresta a arder e a pedalar por
trilhos estranhos, sem certezas. As horas iam passando e a nossa água ia
desaparecendo. Já não sabíamos onde estávamos. Há muito que não avistávamos
casas com pernas e começava a falar com os meus botões. “Isto, no fim de
contas, é cortar caminho e eu tinha dito que nunca, mas nunca mais ia cortar
caminho! Mas quem me mandou!!!”
Quando encontrámos casas, perguntámos por água e tivemos que
pagar os preços injustos que nos propunham. Nada a fazer… Perguntámos pelo
caminho e mandaram-nos cortar à direita para seguirmos pela estrada principal…
Mas no mapa dizia que havia um pequeno caminho ao longo do rio… Não dará mesmo?
Não sei, nem quero saber! O que sabíamos, era que o dia estava a terminar e boa
luz é coisa que não temos…
Fomos meninos bem comportados e seguimos o caminho que nos
foi indicado. Areia, caminho duro e desespero! Já bufava e o Rafael já ia
longe.
- Nunca mais corto caminho, ouviste? – Gritava.
Já não tínhamos água e a estrada principal ainda estava
longe mas mais uma vez o Santo 26,
apareceu e transformou um monte de terra num pequeno acampamento com uma grande
família. Estávamos salvos. Comprámos água e perguntámos os quilómetros para a
estrada. “20 quilómetros?!” Era impossível pedalar com aquela escuridão! Nisto,
uma senhora fez sinal para dormirmos ali. Aceitámos, contentes pelo primeiro
convite, no sudeste asiático!
Passámos a noite a ver dvd’s
pirosos de músicas de baile dos casamentos, com as letras a passarem em rodapé e
a comer arroz branco com… arroz branco.
Novo dia e nova estrada. Ficámos contentes com o alcatrão
mas a estrada era uma seca das grandes. Preferimos a estrada poeirenta, quando
esta nos leva direitinhos aos sítios. Chegámos a Stroeng Treng, com 94 quilómetros… Estávamos na nossa última terra
no Camboja. No dia seguinte, estaríamos num novo país!
Esfregámos a roupa, comprámos comida, jantámos fora, bebemos
um óptimo café frio que repetimos no dia seguinte. Estávamos rotos e por isso,
sabíamos que iríamos dormir como anjinhos!
Novo dia: O dia da despedida! Foi fácil chegar à fronteira.
Entregámos os passaportes e:
- 2 dólares cada um. – Dizia o guarda.
“2 dólares o caraças!” Pensava.
- Como? – Perguntei com um falso sorriso. - Desculpe, mas
não é a primeira, nem a segunda vez que visitamos o vosso país. (pequena
mentira não faz mal a ninguém) Sabemos que não é preciso pagar nada por isso,
não vos vamos dar esses 2 dólares, ok?
- Ok. – Resposta correcta.
Pronto, sem problemas. Tarefa fácil sair do Camboja. Agora,
só falta entrar no Laos… Como será? Hummmm…
é no que dá cortar à direita
Ahahah é engraçado, não é? “Quanto
quilómetros”… Ahahah, os pés na água ahahah e os pés a enterrarem-se na lama a
fazer o som de peidinhos, lolada,
parecemos monstros a caminhar na água, não parecemos? Pronto já chega! Podem
parar com o riso porque não teve piada nenhuma! Nenhuma mesmo!
O caminho não estava marcado no mapa, mas não
foi isso que nos fez desistir da ideia. Como diz o Rafael, “Temos de ir com
confiança”. Não tivemos sorte, como viram… A nossa confiança desapareceu, assim
como o sorriso e a paciência, um para com o outro. Foi um dia muito duro, tanto
fisicamente como psicologicamente, mas no meio de todas essas pequenas
desgraças, conseguimos ter uns raios de boa sorte!
Ainda tínhamos massa do
Tajiquistão (Estragada? Nem pensámos nessa possibilidade) Massa para o jantar!
Já não morreríamos à fome!
- Já não temos fósforos? – Perguntou o Rafael.
- Não temos desde Calcutá!
Lindo! Não tínhamos fósforos, nem isqueiro…
Sentia-me fraca, muito fraca… Não conseguia pensar. Estava tudo a correr mal…
Fui deitar-me.
Tentámos comprar o isqueiro ao anjo disfarçado
mas este não cedeu ao negócio… Claro que não. Como é que poderia salvar novos
ciclistas?
- Não faz mal. Amanhã compraremos um. Já temos
jantar, é o que importa. – Concluía o Rafael.
A missão do anjo estava concluída e por isso
partiu, deixando-nos a saborear cada pedacinho de massa! Que delícia! Porém,
antes que o fogo se extinguisse e não tivéssemos como tê-lo de novo, pusemos a
única vela que tínhamos acesa, ao lado…só naquela!
Não passou mais ninguém por aquele caminho!
Mais ninguém!!! Tivemos muito sorte, foi o que foi.
Antes de dormir, fizemo-nos umas belas dumas
massagens com o óleo que comprámos na Índia e da nossa tenda, dizem os rumores,
saíam uns “aaaaaiis” muito estranhos.
Estávamos todos partidos e cheios de dores mas no dia seguinte, estávamos como
novos, graças a todos os apertões! Psicologicamente, voltar para trás,
destruía-nos aos poucos.
E pronto, foi assim. Voltámos para Kompong Thom, pequena cidade que não
tínhamos gostado. Ali, tudo é caro. Bem mais caro que em Siem Reap! “Será que as pessoas daqui pagam estes preços?” Muito
estranho… Saltámos de restaurante em restaurante, de barraquinha em barraquinha
e saíamos chateados com todos eles! “Não é possível” pensávamos muitas vezes
“eles estão ao gozar connosco!” Conseguimos negociar com um dos empregados, e
conseguimos um arroz com legumes, a um preço razoável mas insisti na
quantidade, pois muitas vezes aceitam baixar o preço mas temos de procurar a
comida no prato.
- Quero o prato bem cheio! – Disse num tom
autoritário, com cara de poucos amigos.
A comida chegou e só o meu prato veio bem
recheado. O Rafael foi obrigado a pedir outra dose pois não reclamou… Não
expliquei que queria os DOIS pratos bem cheios. Como não expliquei, não
percebeu…
Voltámos sempre ao mesmo restaurante, pois era
o único que tínhamos conseguido negociar mas quando tentámos pedir um prato
diferente, o preço estoirou… Reclamámos e dissemos para nos trazerem o mesmo de
sempre, para não nos chatearmos. O senhor da mesa ao lado perguntou o que se
passava e nós explicámos, dizendo que estão sempre a roubar-nos por sermos
estrangeiros, que não é justo e blá blá blá.
Ficámos à espera do nosso arroz com legumes. O
senhor do lado levantou-se, pagou, saiu e entrou num grande jipe com dois
guarda-costas. Nós continuávamos à espera… Estava a demorar… Estranhámos…
Quando a comida finalmente chegou, os nossos queixos cairam! Uma travessa
enorme de arroz, outra travessa enorme com verduras.
- O senhor do lado pagou a conta. – Disse o
empregado e virou costas.
Como? Pagou tudo? Não estávamos à espera que
nos acontecesse isto. O senhor saiu com estilo, sem dizer que tinha pago.
Queríamos agradecer, ou até dizer que não era necessário, pois o problema não
está em pagar, mas não nos foi possível. Pagou e foi-se embora, deixando-nos um
óptimo jantar, com direito a sobremesa! Estava uma delícia!
Gostamos de mercados. Vamos sempre à procura
de um. É o único sítio onde podemos comprar fruta e pão a bom preço. É onde
podemos ver as moscas pousadas nos peixes secos. Há vendedoras de pijama, que
vendem a mercadoria a pessoas também elas de pijama. Aqui é a moda do pijama,
um hábito chinês que na China, é agora proibido. Sair à rua, nestes trajes, é a
coisa mais normal que pode existir! Não há a dor de cabeça de não saber o que
se vai vestir - levanta-se e vai-se à rua, pronto, simples!
Demorámos 2 dias a chegar à capital. Não
podemos dizer que haja muito trânsito, mas os condutores são burros! Aqui não
se fazem perpendiculares, aqui é o salve-se quem puder. Desde a Índia que não
tínhamos este problema. Tínhamos de fazer como eles, conduzir como eles mas
reclamando com eles. Não percebem o porquê de discutirmos, o porquê de
gritarmos quando se enfiam mesmo à nossa frente, quando param mesmo à nossa
frente… Não percebem os erros, não conhecem as regras da estrada.
Ficámos em casa de um Warmshower. Ele só chegaria no dia seguinte, pois vinha de Siem Reap, a correr! Demorou 10 dias e
os amigos estavam a preparar-lhe uma pequena festa de chegada! Estivemos
presentes, e confesso que me emocionei, imaginando-nos a chegar a Portugal…
Esta data já não está assim tão longe e confesso que é muito estranho pensar
nela.
Não ficámos muito tempo na capital pois o
tempo que nos resta, não nos permite muito descanso. Um dos principais
objectivos era visitar uma escola que foi transformada em prisão. A famosa –
infelizmente – prisão S-21. Não visitámos os campos de morte, pois o que vimos
bastou para ficarmos “doentes” com a crueldade do ser humano. Não estamos a
falar de uma data longínqua, estamos a falar de 1975! Estamos a falar dos Khmer Rouge que ficaram 3 anos no
governo e que encheram o Camboja de sangue e esqueletos. Mais de 2 milhões de
mortes, com as torturas mais cruéis que possamos imaginar. Os bebés eram
retirados à força às mães e eram atirados com a cabeça contra as árvores para
não gastarem balas, porque antes, eram atirados para o ar e fuzilados. Os
homens e as mulheres eram torturados até confessarem o crime pelo qual estavam
a ser acusados, sem fazerem a mínima ideia do que poderia ser… Houve pessoas
que passaram a trabalhar como guardas, para os Khmer Rouge, para não serem mortos e tiveram de ver familiares a
serem torturados e fuzilados.
Houve 14 corpos que foram encontrados na
prisão e houve apenas 7 sobreviventes. Entrávamos de quarto em quarto, de cela
em cela e pensávamos “Como é que foi possível?”. Vemos as fotografias das
pessoas que por lá passaram, das crianças, dos homens e mulheres, das
expressões de medo, de desistência, de inocência… “Como é que foi possível?”.
Ver as pinturas de algumas torturas, de como eram mantidos fechados, como
dormiam… “Como é que foi possível?”. Como é que é possível um ser humano
conseguir torturar um semelhante para prolongar por algum tempo a sua vida,
pois muitos dos guardas foram mortos também.
Fica-se doente ao visitar a prisão, ao
aprender um pouco mais de história, história recente…
Não visitámos mais nada na capital. Ficámos um
dia inteiro ligados à internet, trabalhando, matando saudades da família e
amigos, comendo pizzas. Mais uma vez o meu vegetarianismo foi por água abaixo…
Nem me dei ao trabalho de tirar os camarões e as delícias do mar da pizza. Há
muito que andava a sonhar com esta refeição e ao vê-las em cima da mesa (no
jantar da chegada do herói) foi o delírio! O Rafael tirava os camarões e
colocava-os em cima da minha fatia e eu deliciava-me com uma pitada de culpa
mas… que bom! O meu corpo está a pedir coisas diferentes. Ele fica triste, sem
vida, se não variar na alimentação, e por aqui, tem sido difícil ou impossível.
No dia seguinte, fomos os dois à pizzaria e pedimos duas vegetarianas que
devoramos num piscar de olhos.
Pronto, estávamos prontos para partir. Nada
mais tínhamos para fazer na capital e a distância que tínhamos para fazer até
Macau, recordava-nos que não nos restava muito tempo. Agora sim, estávamos na
recta final, estávamos na direcção para Macau! Já sentimos o sabor do fim da
viagem…
Não sejam mãos largas
Depois de muito calor, de muito suarmos, de muitas
canas-de-açúcar bebidas, de vermos que as quantidades de arroz frito com
legumes são “bem boas” - enchem bem um prato, como nós gostamos - chegámos a Siem Reap, contentes por ser ainda cedo.
Fomos à procura da Guesthouse que nos
indicaram, mas não com o intuito de ficar - tínhamos encontro marcado com o
nosso warmshowers.
Esperámos, esperámos e esperámos… Cheirávamos mal e não
podíamos fazer nada em relação a isso. Tínhamos de esperar e pronto… Esperámos.
Passadas 4 horas, chegou com mais um casal.
- Desculpem… Combinei com ambos os casais mas não se
preocupem, arranjasse sempre forma de dormir! – Desculpou-se.
Já estavam com 6 meses nos pedais e ainda lhes restavam
outros 6. Tinham feito 140 quilómetros para chegar a Siem Reap… Coisa normal para eles… Ficaram admirados com os
quilómetros que tínhamos, pois eles, com apenas 6 meses, não tinham os mesmos
mas estavam no bom caminho.
Os músculos que ela trazia nas pernas, não eram obra desses
meses a pedalar. É uma atleta em França. Corre na lama, na areia, na montanha… fazer
140 quilómetros num dia numa bicicleta, é coisa para meninos! Nem precisa de
ouvir música para passar o tempo ou para ajudar a alegrar o caminho quando este
está a ser monótono.
Pois nós, gostamos de viajar bem lentamente e ficar nos
sítios. Partilhámos a nossa viagem através de fotografias e fiquei com uma
enorme vontade de conhecer a América do sul. Há muito que o desejo mas depois da
pequena viagem por fotografias… “Vamos, vamos! A pedalar!”. A dureza do caminho
apimentava a viagem e dava fotografias incríveis.
Quem quer visitar os templos de Angkor, quem é, quem é? Estou a sentir muitos dedinhos no ar,
muitos olhos a brilhar, muitos sorrisinhos! Um conselho: Vão! Vão e comprem um
bilhete de 3 dias! (Paguem em dólares, porque se pagarem na moeda deles, fica
mais caro… É o ÚNICO sítio com uma conversão de moeda diferente).
Vão sentir-se umas verdadeiras Tomb Raider, a explorar o espaço e a subir e descer pedregulhos.
Vale a pena dizer que esta maravilha é realmente uma maravilha? Vale a pena
dizer que vale a pena cada tostão que saiu da carteira? O que é que posso dizer
que não saibam? O nascer do sol é qualquer coisa de mágico. Nós que nunca,
repito, NUNCA nos levantamos para ver o nascer do sol, demos por nós a acordar
às 5 da manhã e a pedalar 10 quilómetros para nos juntarmos às centenas de
pessoas que já se encontravam no lugar. Qual sala de cinema qual quê!
Sim, Angkor é para
ser visitado! Não vou escrever sobre o sítio. Ficamos à espera que nos digam
vocês, como foi!
Em Siem Reap,
descobrimos (não foi realmente uma descoberta) que é bom estarmos com uma
pessoa da terra quando vamos aos restaurantes.
- Dou-lhes o preço para turistas ou não? – Perguntou a
empregada ao nosso warmshowers em khmer, a rir-se e com “estragaste-me o
negócio” no pensamento.
Claro que pagámos o mesmo que ele, pois ele não autorizou
tal aldrabice. No dia seguinte, fomos tomar o pequeno-almoço ao mesmo sítio,
pois sabíamos o verdadeiro preço. Pedimos o mesmo (não temos muita escolha) mas
o preço do menu era bem diferente…
- Não queremos o menu porque está com os preços para
turistas. Não somos turistas. – Dissemos, mas a mensagem, não foi bem entendida.
Ao pagar, sai da boca da empregada, um preço obeso…
- Estivemos cá ontem, sabemos o preço.
Ela riu-se e confirmou. Deu-nos o troco certo mas não
ficamos por ali, pois não estávamos contentes…
- E ontem, o prato estava bem servido! Tinha ovo e fruta.
Hoje, que estamos sozinhos, estava uma miséria…
Ela deu-nos razão e juntou outra nota ao troco.
Há coisas que não admitimos! Não admitimos que brinquem com
a nossa tolerância. Não admitimos que nos digam que somos ricos porque somos
brancos… O Rafael teve uma grande conversa com um guarda em Angkor, sobre esse assunto, porque ele
atirou-nos à cara:
- Para vocês, isto não é nada, são ricos! - Quando
explicámos que pagar em dólares ficava mais barato mas que não tínhamos
connosco, por isso teríamos de voltar no dia seguinte.
O Rafael transpirou ao tentar explicar mas aposto que não
percebeu! Mas claro que não percebeu! Se uma pessoa viaja, é rica, se viaja de
avião, ainda mais rica é! Não vale a pena explicar que viajamos de bicicleta,
que dormimos em tendas e cozinhamos, porque ele não ia perceber. Continuava com
o seu sorriso nervoso e a dizer OK, OK.
Chateiam-nos com esses pensamentos mas também ficámos
chateados com duas atitudes de turistas, que presenciamos. Ficámos doentes e
estamos arrependidos de não termos aberto a boca.
- Se te der 1 dólar, vais embora? – Perguntou o senhor à
criança que gesticulou afirmativamente.
Mas como é que é possível? Podem estar a pensar, mas 1 dólar
não é nada… É sim! É!!! E é por causa desses dólares que os pais continuam a
empurrar os filhos para as pernas dos turistas, por ser mais fácil terem pena,
mas esquece-se o turista que se continuar a “alimentar” este acto, a criança
nunca irá para a escola, já que os pais têm mais lucro com ele na rua e vai
começar a ver todo o turista de igual forma – em forma de dólar, o que também é
errado, pois um turista suíço com 60 anos na reforma, tem muito, mas muito mais
dinheiro do que um estudante espanhol. Na nossa cabeça, faz todo o sentido, não
na deles.
- Olha que criança tão linda. Oh que riquinha, toma lá um
dólar.
Outra cena terrorífica foi ver um grupo de turistas coreanos,
que estavam a ser devorados por crianças, um homem a abrir a carteira e a
oferecer notas de 1 dólar a cada criança, que desapareciam com um grande
sorriso de vitória.
O mundo está doido ou quê? “Nos outros países, eles devem
ter dólareira, nós temos bananeiras,
mas deve ser bem mais melhor bom ter dólareiras!” Deve ser o pensamento dos
miúdos daqui.
Reclamamos muito, mas temos de reclamar para perceberem que há
diferentes tipos de turistas. Por causas desses turistas inconscientes é que
viajar ser torna cansativo, para viajantes como nós que todos os dias apontamos
o dinheiro que gastamos, fazemos a média ao fim do mês, a média por país… Não
pensamos em euros, pensamos na moeda do país. Se uma garrafa de água de meio
litro custa 500 Riel, porque é que eles pedem 1000? É apenas mais 10 cêntimos
mas como disse, não pensamos em Euros, pensamos que é o dobro! É muito! Com
1000 Riel, compramos duas! Não queiram imaginar as vezes que lutámos por causa
de água, que para nós é das coisas mais importantes e que bebemos litros e
litros por dia! Ah… Faz falta um filtro de água.
Por favor! Não sejam mãos largas nas vossas férias. Não é
assim que os ajudamos a enriquecer. Se fizermos todos o mesmo, aos poucos eles
vão perceber que o turista não é burro.
Saímos de Siem Reap
no mesmo dia que os franceses, mas fomos em diferentes direcções. Nós
continuávamos para sul, em direcção a Phnom
Phen - a capital. Pedalámos com muito calor, para não variar muito e
continuávamos a ter o vento de frente. Desde que entrámos no Camboja, tem sido
a mesma conversa: o vento chateado connosco, e não fazemos a mínima ideia do
porquê! Juro que nada fizemos! Mas ele insistia na discussão.
Nesse dia, não encontrámos nada para almoçar. Não é fácil
por aqui… Na Tailândia era bem mais fácil e percebiam-nos bem melhor. Aqui, são
um pouco chineses, não são bons em mímica…
Vimos à entrada de uma casa uma senhora a cozinhar uma coisa
estranha… Eles perceberam que não comíamos carne nem peixe, e nós conseguimos
perceber que aquelas bolinhas eram feitas de arroz, e o molho, de alho.
Agradou-nos essa pequena descoberta e agradou-nos a pergunta
que o senhor mais velho nos fez. “Claro que queremos um banho!” O senhor foi
com o Rafael e abriu-lhe a torneira. Foi buscar o champô mas já era de mais… O
que queríamos não era cheirar bem, mas sim, refrescar-nos! Claro que fui para a
fila e voltei para o meu pratinho de comida, toda encharcada! Que bem que
soube!
Adeus, adeus e já estávamos a fazer má cara com a teimosia
do vento. No sentido contrário, íamos conhecendo vários cicloturistas. Todos
eles reformados! (É preciso chegar a reformado para termos o vento pelas costas?
Posso dizer que é injusto? Posso queixar-me?) Voltamos a encontrar um alemão
que conhecemos no Paquistão. “O mundo é mesmo pequeno”.
O caminho continuava bonito, com as casa em madeira, com as
crianças e adultos a gritarem Hello,
com o Rafael a somar mais furos…
Quando chegámos a Kampong
Thum, detestámos! Não tem nada para ver e os preços são ridiculamente
caros! Mais caro que em Siem Reap que
é super hiper turístico. Não entendo porque é que nesta cidade sem nada, os
preços são de fugir! Sim, fugimos! No dia seguinte fugimos para não ganharmos
cabelos brancos nem rugas de tanto franzir as sobrancelhas.
Partimos para o nosso pior dia… “Olha para o casal francês…cortaram
caminho. Podemos fazer o mesmo e passar para o outro lado do lago!” Partimos, procurando
apimentar a nossa viagem, colori-la, procurando fotografias mais animadas…
Partimos com pouca água, “encontramos pelo caminho” Partimos com pouca comida,
“encontramos pelo caminho, há sempre barraquinhas.”. Partimos para o pior dia
da viagem! Ainda me dói falar nele… Ainda me dói pensar nele… Fica para um
próximo post… Pedimos desculpas mas
não estamos preparados.
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